A formação encarnada vence a sua 18.ª Taça de Portugal diante do FC Porto de Pedroto, por 1-0, no Estádio das Antas. As águias, comandadas por Eriksson, conquistam a oitava "dobradinha".
21.08.1983, Porto (Estádio das Antas) – SL Benfica 1-0 FC Porto
Carlos Manuel (1-0)
Águias conquistam 18.ª Taça e oitava “dobradinha”
Benfica e FC Porto encontram-se pela terceira vez nas quatro últimas edições da final da Taça de Portugal. As águias voltaram a vencer, desta feita por por 1-0, graças a uma “bomba” de fora da área de Carlos Manuel, aos 20 minutos, sem hipóteses para Zé Beto.
Foto: Acervo SL Benfica
Os dragões, com quatro Taças de Portugal no seu palmarés, perderiam a sua oitava final, a quarta nas últimas sete edições. Foi o sexto triunfo das águias em sete finais diante do FC Porto.
Foto: Acervo SL Benfica
O jogo decorreu no Estádio das Antas, naquela seria a última final disputada fora do Jamor. O palco do jogo foi decidido no início da época, mas acabaria por ser adiada e disputada quando já decorria a época de 1983/84 (ver texto em baixo).
O treinador Sven-Goran Ericksson, que tinha ganho a Taça UEFA em 1982 ao serviço do Gotemburgo diante do Hamburgo (1-0 e 3-0), foi a aposta do Presidente do Benfica, Fernando Martins, para substituir o húngaro Lajós Baroti no comando das águias e cedo mostrou que seria um técnico capaz de revolucionar o futebol do Benfica e o próprio futebol português. Na sua primeira época em Portugal venceu o Campeonato, disputou novamente a final da Taça UEFA, que viria a perder para o Anderlecht no mês de maio (ver texto em baixo), e conquistaria a Taça de Portugal, alcançando assim a oitava “dobradinha” para o Benfica. Como forma de protesto pelo facto de a final ser no Estádio das Antas especulava-se que o Benfica poderia jogar o derradeiro jogo da Taça com jogadores mais jovens, mas o técnico sueco refutou essa ideia e apresentou-se na máxima força.
Até à final, as águias derrotaram o Portimonense (2-0) nas meias-finais, o Sporting (3-0), o Leixões (2-1), o Paços de Ferreira (5-1) e o Atlético CP (6-0).
O vice-campeão FC Porto (com menos quatro pontos que o Benfica), que contava nas suas fileiras com o goleador Fernando Gomes, o melhor marcador de todos os campeonatos da Europa (Bota de Ouro), com 36 golos - mais 15 tentos que Nené, do Benfica, e 16 que N’Habola do Rio Ave -, teve de deixar pelo caminho a Académica (9-1, nas meias finais), o SC Braga (3-0), o SC Espinho (3-1), o FC Famalicão (5-0) e a União de Coimbra (4-0).
A “dobradinha” do Benfica colocou o FC Porto como representante luso na Taça das Taças e os “dragões” chegariam à final da prova na temporada seguinte, diante da Juventus.
Jogo agendado para 12 de junho... disputado em agosto
A 43.ª edição da Taça de Portugal cedo começou a despertar discórdia e já em junho de 1981, em vésperas da final da 41.ª edição, o FC Porto levantava questões de segurança no Jamor (ver mais aqui).
A 6 de fevereiro de 1982 é aprovada a alteração do Regulamento da Taça de Portugal no Congresso da FPF, tendo ficado definido que a final passaria a ser itinerante, não voltando a realizar-se duas vezes seguidas na mesma cidade, conforme descrito no Diário de Lisboa* de 8 de fevereiro (página 17). Esta alteração abriu portas a candidaturas de outras Associações de Futebol à organização da final da prova e no início da temporada 1982/83, a Federação Portuguesa de Futebol presidida por Romão Martins, tomou a decisão de atribui a organização da final à a Associação de Futebol do Porto, que haveria de escolher como palco o Estádio das Antas.
A 17 abril de 1982 Pinto da Costa assume a presidência do FC Porto e, com ele, dá-se o regresso de José Maria Pedroto ao comando técnico da equipa azul e branca.
Após as meias-finais disputadas a 8 de maio, com Benfica e FC Porto apurados, a polémica aumenta, uma vez que as águias já tinham demonstrado, antes das meias-finais, a sua vontade de não jogar a final nas Antas (Diário de Lisboa de 8 de abril de 1983, página 17).
A Associação de Futebol de Lisboa defendia que a final da Taça deveria ser no Jamor, mostrando-se contra a alteração do regulamento, como se pode comprovar na página 16 do Diário de Lisboa* de 3 de maio de 1983.
Silva Resende, que no início de abril de 1983 toma posse como Presidente da Federação Portuguesa de Futebol (ver mais na edição de 6 de abril de 1983 do Diário de Lisboa*, página 18), também defendia que o Jamor não deveria deixar de ser o palco da final.
O FC Porto recusa-se a jogar a final caso esta não se jogue nas Antas e o Benfica não quer jogar em casa do adversário.
A hipótese de a final ser disputada em Coimbra também é recusada pelas águias que querem ver o jogo ser disputado no Estádio Nacional. A edição de 14 de maio do Diário de Lisboa* (página 13) destaca “final da Taça quase-quase em Coimbra”, dando conta das resoluções do Congresso da Federação Portuguesa de Futebol realizado a 13 de maio de 1983.
Na Assembleia Geral do FC Porto de 1 de junho de 1983 a posição dos dragões, de apenas jogar a final se esta tiver lugar no Estádio Nacional, sai reforçada. Como se pode ler na edição de 3 de junho de 1983 do Diário de Lisboa*, na página 13, “os cerca de 10 mil adeptos portistas que encheram por completo o Pavilhão das Antas, aprovaram exactamente uma moção (por aclamação) na qual se diz textualmente: «O FC Porto, pura e simplesmente, recusa-se a participar na final da Taça, caso não seja no Estádio das Antas, no Porto».” Na Assembleia Geral “mais concorrida de sempre”, “Jorge Nuno Pinto da Costa diria, então, aos presentes – no meio de grande efervescência – que estava na disposição de se demitir, caso a resposta dos sócios do clube não tivesse sido a que foi”.
O Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol reúne-se dias depois, a 8 de junho, e decide adiar o jogo inicialmente agendado para 12 de junho, como conta o Diário de Lisboa* de 9 de junho (página 16). O adiamento, sem data marcada, prevê a que a o jogo se dispute no Estádio das Antas e o Benfica ameaçou recorrer aos tribunais civis (segundo o fascículo da edição n.º 7852 do Jornal "A Bola"). Os jogadores de ambas as equipas foram de férias e a época terminou sem que se jogasse a final, que acabaria por ser disputada no Estádio das Antas, já na época de 1983/84, a 21 de agosto de 1983.
O Presidente do SL Benfica, Fernando Martins, afirmou nesse verão: “Fui eu que decidi que viéssemos às Antas, por uma questão de respeito pelo futebol e para evitar que o FC Porto pudesse estar sujeito a terríveis consequências”.
No final do encontro, o técnico do FC Porto, José Maria Pedroto, deixou um lamento. “Só tenho a lamentar que o Benfica tenha mais uma vez utilizado o seu poderio para não jogar na data inicialmente marcada, porque sabia que estava em má forma” (Diário de Lisboa* de 22 de agosto de 1983, página 13).
Neste ano
A 13 de novembro, Portugal bate a União Soviética de Dasayev e Blokhin, por 1-0 (golo de Rui Jordão de grande penalidade, aos 42 minutos), no Estádio da Luz e carimba a passagem para o Campeonato da Europa como primeiro classificado do grupo composto ainda por Polónia e Finlândia. Em 1984, Portugal chega pela primeira vez a uma fase final do Campeonato da Europa. "Futebol português dá pontapé no azar europeu", destacava o Diário de Lisboa* de 14 de novembro.
O Benfica chega à final da Taça UEFA, na sua terceira participação na prova. Depois da presença em cinco finais da Taça dos Campeões Europeias (entre 1961 e 1967), as águias tinham pela frente a possibilidade de conquistar um terceiro troféu em provas da UEFA. No entanto, seriam os belgas do Anderlecht a vencer a prova - depois de um triunfo em Bruxelas (1-0), empataram na Luz (1-1) - os jogos foram disputados a 4 e a 18 de maio . Pelo caminho ficariam os romenos do Universidade de Craiova (0-0 e 1-1), a Roma (1-2 e 1-1), o Zurique (1-1 e 4-0), o Lokeren (2-0 e 2-1) e o Bétis (2-1 e 2-1). O outro representante luso, o FC Porto, foi eliminado precisamente diante do Anderlecht na segunda ronda (0-4 e 2-3).
Na Taça dos Campeões Europeus, o Sporting chega pela primeira vez, ao fim de 10 participações, aos quartos de final da prova, sendo eliminado pela Real Sociedad (1-0 e 0-2), depois de ultrapassar os búlgaros do CSKA e os jugoslavos do Dínamo. O Hamburgo venceria a prova ao bater a Juventus de Platini, Boniek e Rossi, por 1-0, com tento de Felix Magath.
Na Taça das Taças, o SC Braga não foi feliz e caiu na pré-eliminatória diante dos galeses do Swansea (0-3 e 1-0). Os escoceses do Aberdeen conquistaram o troféu na final diante do Real Madrid.
Fernando Gomes torna-se no segundo português a conseguir vencer a Bota de Ouro (depois de Eusébio em 1968 e 1973). Com 36 golos no Campeonato, o goleador voltaria a vencer o troféu que distingue o melhor marcador de todos os campeonatos europeus em 1985, sucedendo ao galês Ian Rush (Liverpool).
A 25 de abril Portugal vai a eleições. Mário Soares vence as legislativas mas recusa Governo minoritário (Diário de Lisboa* de 26 de abril de 1983). O IX Governo Constitucional de Portugal, constituído por uma coligação pós-eleitoral entre o PS e o PSD - ficaria conhecido como Governo do Boco Central -, viria a tomar posse a 9 de junho de 1983 (ver edição do Diário de Lisboa*).
A 28 de outubro Portugal vence na Polónia (1-0, com golo de Carlos Manuel) e garante a primeira participação lusa num Campeonato da Europa de Futebol.
A 1 de janeiro é dada por oficialmente completa a migração da ARPANET para o TCP/IP, considerando-se este o verdadeiro início da Internet.
* - Casa Comum, desenvolvido por Fundação Mário Soares
Equipas
Árbitro: Mário Luís
Benfica: Manuel Bento, Minervino Pietra, Bastos Lopes, Oliveira, Álvaro Magalhães, José Luís, Carlos Manuel, Glenn Stromberg (Shéu, 85’), Veloso, Nené, Zoran Filipovic (Padinha, 59’), Nené – Cap.
Treinador: Sven-Goran Eriksson.
FC Porto: Zé Beto, João Pinto, Lima Pereira, Eurico, Inácio (Rodolfo Reis, 46’), Jaime Magalhães (Walsh, 46’), Frasco, Jaime Pacheco, António Sousa, Jacques, Fernando Gomes – Cap.
Treinador: José Maria Pedroto
Foto: DR
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