Texto exclusivo de Jesualdo Ferreira no número 31 da revista oficial da FPF.
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Um ponto prévio, que me parece da mais elementar justiça assinalar antes de nos lançarmos por caminhos que são simultaneamente da história, do presente e do futuro: o futebol português tem um passado muito rico. Já o tinha quando, nos finais dos anos 70 do século passado, embarcámos na aventura de reformular o treino e a formação de treinadores em Portugal. Foi aliás, como veremos à frente, ao lado de grandes nomes que vinham desse passado que se construiu este futuro. Um futuro que nos trouxe à conquista de vários títulos a nível europeu, incluindo o tão ambicionado Campeonato da Europa de seniores. Sem esquecer - reforço a título de exemplo para ilustrar esta introdução - que Portugal já fora campeão europeu de juniores em 1961, liderado pelos senhores David Sequerra e José Maria Pedroto.
Mais do que falar num ponto de rotura, prefiro pensar numa evolução natural do conhecimento a propósito da formação de treinadores de futebol em Portugal. Antes do 25 de abril de 1974, a formação estava a cargo do Sindicato de Treinadores de Futebol. Um contra-senso absoluto. A Federação, na altura, caucionava o que o Sindicato dizia e era treinador quem fizesse uma simples especialização em futebol sob a sua égide.
Dentro da nova ordem política do pós- Revolução, a Direção Geral dos Desportos assumiu a tarefa e começou a organizar os cursos. O primeiro deles, no qual participei ativamente, já tinha uma perspetiva e uma visão diferentes do que poderia vir a ser o futuro, embora a formação continuasse a ser ministrada pelo Sindicato de Treinadores e por um que entretanto surgiu, o SinBol, no qual José Maria Pedroto estava fortemente envolvido e que provava a existência de uma cisão crescente entre a classe.
Em 1979, no então Instituto Superior de Educação Física (ISEF), liderei um processo, com a companhia dos professores Joseph Wilson e Mirandela da Costa, tendente à criação de uma estrutura interna, uma escola de futebol. Uma escola não no sentido físico mas conceptual: que passasse a ter influência e fosse timoneira da nova formação de treinadores. Não estamos propriamente, nesta altura, a falar de uma carreira académica, mas tornava-se claro que o jogo não se esgotava nas discussões táticas do 4x4x2 ou do WM.
Criámos, então, a cadeira de Futebol para introduzir no currículo académico e, paralelamente, o Gabinete de Futebol, que foi entretanto evoluindo e acabou por constituir a primeira grande alteração às conceções de treino, àquilo que se entendia que deveria ser um treinador.
A continuidade deste processo provocou alterações profundas em toda a estrutura de formação. Houve alunos que foram crescendo nessa estrutura académica, como Arnaldo Cunha, Jorge Castelo ou Rui Mâncio. O Nelo Vingada já era na altura professor e, nessa estrutura, emergiu uma figura que se tornaria maior em todo este processo: o professor Carlos Queiroz. De aluno passou a meu assistente, em 1981. Juntamente com os já referidos Joseph Wilson e Mirandela da Costa, lutámos por uma diferenciação positiva e insistimos na necessidade de formação de uma associação de treinadores, bem como numa forte ligação entre a federação e o ISEF, no sentido de a faculdade passar a ser o sustentáculo académico da formação de treinadores. Nós construíamos as coisas, tínhamos capacidade para pensar e propor, e a FPF poderia liderar institucionalmente o processo, combatendo a falta de ordenamento e promovendo uma lógica sustentada de ensino e formação a quem queria ser treinador de futebol.
Com o passar dos anos o Sindicato de Treinadores e o SinBol diluíram-se. Da junção de pessoas e ideias nasceu então a Associação Nacional de Treinadores de Futebol. O prof. Wilson ficou diretamente ligado à formação, o prof. Mirandela da Costa tornou-se Diretor Geral dos Desportos, eu e o Carlos Queiroz prosseguimos, no ISEF, com o trabalho de investigação e com uma contínua apresentação de propostas de novas formas de melhoramento dos processos formativos. Durante cerca de quatro anos consolidámos, todos, uma escola nova, diferente. Por esta altura deu-se uma viragem e foi possível fazer a junção definitiva entre a informação científica, o empirismo próprio do futebol e o conhecimento de outras áreas que ultrapassavam o 4x3x3 e o 4x4x2: nasceu a necessidade de percebermos o porquê, o quê, o como e o quando se treina. Foi isto que orientou o nosso trabalho e ajudou a criar os currículos dos diferentes cursos.
O ISEF passou a ter a cadeira de Futebol, no terceiro ano, e depois no quarto e no quinto incluía práticas pedagógicas com um centro de treinos que criámos fora da faculdade. Esta mecânica prosseguiu nos anos seguintes. Eu saí em 1985, o Carlos Queiroz saiu um pouco mais tarde, mas as ideias nunca mais morreram. Ainda hoje, na Federação, está o prof. Arnaldo Cunha, uma pessoa muito importante deste gabinete. Já falei igualmente no Jorge Castelo, por exemplo, mas a verdade é que não queria pessoalizar muito. O essencial é percebermos que o ISEF reunia uma série de gabinetes das várias modalidades desportivas nos quais estavam os mais fortes técnicos de cada uma delas. A instituição foi evoluindo, mais tarde transformou-se em Faculdade de Motricidade Humana, muita coisa mudou entretanto, mas o que produzimos nessa altura foi fundamental no que respeita à formação na área do futebol. Liderei e criei – assumo-o hoje sem problemas e não haverá quem possa desmentir-me – mas foi essencialmente um trabalho de muitos, que felizmente foi continuado e fez crescer uma ideia.
Jogámos as fichas todas aqui, como costuma dizer-se. Só seria possível criar a ANTF quando existisse um grupo, só assim seria possível chamar a atenção do próprio Estado. Só poderíamos pensar em formação única se toda a gente percebesse que linha era a nossa. Liderar um processo em que foi preciso reunir todas as sensibilidades da altura não foi nada fácil. Toda a gente percebeu que se estava a trilhar um caminho diferente. Quem quis acompanhar acompanhou, quem não quis não acompanhou, e isso é – foi – perfeitamente legítimo. Tivemos sempre um enorme respeito pelos treinadores que vinham já dos anos 60, grandes mestres como Fernando Vaz, Mário Wilson, José Maria Pedroto, António Medeiros ou Manuel Oliveira. Discutimos muito entre todos, tivemos algumas lutas, entre aspas e no bom sentido, e dessas conversas e discussões conseguimos construir esta nova ideia, um novo conhecimento, uma nova forma de entender o jogo e treinar o futebol. Abriu-se o caminho para o que hoje é o cenário dos treinadores portugueses.
O “SABER PORTUGUÊS”
Em 1989, quando Portugal foi campeão do Mundo de sub-20, o treino que se fazia no País nada tinha a ver com o que era feito quando iniciámos todo este processo. A escola foi criada, os treinadores foram saindo dos cursos e à medida que se formavam iam criando as suas próprias ideias e contribuindo para a evolução.
Em todo este processo – e antes mesmo de ele se iniciar – prevalece um fio condutor que acaba por determinar muito do que foram os caminhos percorridos, permitindo o sucesso que indubitavelmente podemos considerar como imagem de marca dos últimos largos anos dos treinadores portugueses: um “saber português” que nos distingue dos outros.
Este saber baseia-se em dois pilares essenciais: o futebol de rua e a capacidade de absorção de conhecimento. O treinador português (tal como aliás o jogador, na sua génese) nasceu cá, no nosso futebol, na rua, e entende o nosso jogo. Percebe os nossos jogadores como ninguém mas ao mesmo tempo nunca negligenciou as tendências vindas de toda e qualquer parte do Mundo. A evolução que experimentámos no último quarto do século passado replicou movimentos que se desenrolavam em França, na Alemanha e vários outros países. As próprias UEFA e FIFA desenvolveram bastante a formação a partir desta altura.
Mas voltemos à nossa experiência: em 1982, o célebre “dream team” brasileiro, do Telé Santana, estagiou em Portugal antes do Mundial de Espanha. Coube então ao Gabinete de Futebol do ISEF prestar-lhes apoio ao nível da informação sobre os adversários. Naquela altura já coligíamos registos estatísticos sobre os adversários e tínhamos relatórios sobre a forma como jogavam. Havia era um Betamax para trabalhar… Se caísse em cima do pé de um de nós partia-o! Não tínhamos computadores mas trabalhávamos muito, queríamos muito fazer coisas novas.
Demos, então, apoio ao Brasil e recordo-me bastante bem de falarmos a propósito da Itália, dando-lhes a saber a forma como jogavam e se organizavam, com aquela especificidade da solidez defensiva e do contra-ataque letal. O Telé Santana disse-nos algo como “esses caras jogam bem, mas são eles que têm de preocupar-se connosco!”. O resultado é o que sabemos: a Itália eliminou essa fantástica equipa do Brasil.
Serve isto de exemplo para mostrar que já nesse início da década de 80 estávamos num rumo do qual ninguém nos conseguiria desviar. Já não era possível parar o caminho na direção de um novo treinador, de uma nova forma de conhecer o futebol, fazê-lo evoluir de forma diferente, acabar de vez com aquela ideia de que não ganhávamos porque não comíamos bifes nem bebíamos leite e os outros eram mais fortes por causa disso.
A questão não era obviamente a altura ou o peso, mas sim conhecer melhor o jogo e criar condições para que os jogadores se tornassem mais robustos, mais fortes, mas dentro das suas características. Não podíamos tornar o Chalana, o Alves, o Jaime Pacheco, o Diamantino ou o Futre mais pesados, menos franzinos ou mais altos! Mas podíamos, com treino e conhecimento, fazer deles melhores jogadores. Estamos a falar, essencialmente, de alteração de conceitos e de trazer ao quotidiano das equipas coisas que antes não conhecíamos. Foi isso que fez modificar o percurso do futebol português, que não ia aos Mundiais e passou a ir, não estava regularmente nos Europeus e passou a estar sempre - de tal forma que terminámos campeões -, chegou a bicampeão mundial de sub-20.
Em termos de Campeonatos da Europa só nos falta o título de sub-21, que nos tem escapado por uma ou outra razão mas do qual temos estado progressivamente mais perto. Importando aqui repetir algo que já escrevi atrás: o primeiro título foi alcançado em 1961. Não houve poções mágicas nem iluminados vindos das universidades a espalhar sabedoria a partir do 25 de abril. Houve muito trabalho, muito querer e havia igualmente muitas bases vindas do passado. Bases e pessoas, que através do debate e do confronto de ideias – mas também da capacidade de conjugar esforços – muito nos ajudaram a criar condições para o salto qualitativo.
Houve um longo caminho do treinador português até aos dias de hoje. Demorou muito, mas a verdade é que temos um campeão europeu – Fernando Santos, - um campeão europeu de clubes – Artur Jorge -, um bicampeão europeu de clubes – José Mourinho -, dois treinadores que já venceram a Taça UEFA/Liga Europa – Mourinho e André Villas Boas -, um bicampeão mundial de sub-20 – Carlos Queiroz -, vários campeões da Europa de camadas jovens e gente a ganhar campeonatos e taças em países de topo como França, Espanha, Inglaterra ou Itália. Isto para não falar de vários outros títulos noutras paragens do globo e da imensa proliferação de treinadores portugueses pelo Mundo. Tudo isto vindo de um país pequeno, que produz pouco. Com um detalhe importante no que respeita aos principais nomes: todos, à exceção de Leonardo Jardim, ganharam em Portugal antes de terem sucesso no estrangeiro. Daí ser legítimo, indubitavelmente, falar-se do tal “saber português”.
A FORMAÇÃO
A dada altura do longo processo que temos vindo a analisar, relativo à formação de treinadores, a oferta proliferou de forma algo anárquica. Podemos considerar que chegou a haver cursos a mais e a perder-se um pouco a lógica. Foi necessário então, da parte da Federação, um esforço no sentido de disciplinar a situação.
Este esforço acabou por replicar, na prática, o que a FIFA e sobretudo a UEFA foi criando em relação à formação de treinadores. Com o correr do tempo as coisas foram ficando definidas em termos de competências e carreiras.
Passou a haver, como na generalidade das profissões, um conjunto de etapas de formação colocadas à disposição dos candidatos. E o treinador, mesmo depois de consolidado, tem de cumprir determinado número de horas de formação, estudos e graduações. São cursos que foram evoluindo um pouco por todo o Mundo. Já não se pode ser treinador porque se quer, onde se quer e como se quer. Os requisitos são cada vez mais. Não importa discutir, aqui e agora, se são ou não os melhores – sabemos que têm de ser cumpridos. O treinador entrou num quadro de formação e aperfeiçoamento onde já estavam todos os outros técnicos de várias áreas. Todos precisam dessas horas de atualização para continuarem ao serviço.
O benefício desta formação institucional é indiscutível e sobrepõe-se ao peso de algo que é feito por obrigação. Há, no entanto, uma formação pessoal complementar que na minha opinião define muito mais sobre o que somos, como evoluímos, como aprendemos a ser melhores treinadores, em suma, como temos ou não sucesso.
Acredito que nascemos com um determinado tipo de qualidades para a profissão que vamos ter no futuro. Os treinadores não fogem à regra. Acredito, nesta fase da minha vida, que a paixão pelo treino é o que maior significado e importância tem na forma como investimos sempre mais e mais na nossa, chamemos-lhe assim, autoformação.
Esta formação contínua, que se faz ao longo de toda a vida, foi obviamente passando por um conjunto de alterações relacionado, essencialmente, com toda a evolução que o Mundo tem conhecido num sem número de matérias que constituem os nossos traços culturais e identitários.
Ser treinador hoje não é igual ao que era há 40 ou 50 anos, quando comecei a trabalhar. Os meus conhecimentos – os de todos, creio – foram avançando no tempo. Nessa altura de que temos estado a falar fomos começando a perceber que o trabalho de um treinador passa por áreas que não se circunscrevem ao que surge no dia a dia, àquelas duas horas de treino e à condução do jogo. Tornou-se importante construir um treinador que seja um gestor de um conjunto de matérias utilizadas para liderar um grupo.
Esta questão da liderança foi determinante em toda a evolução do papel do treinador. O estudo e o investimento que cada um faz no estudo destas múltiplas matérias extra “futebol puro e duro” reforça decisivamente a questão vocacional de cada um.
Em tempos idos havia uma grande análise às táticas, como se dizia na altura. Grande parte das pessoas que estavam no treino ou queriam ser treinadores procurava novos exercícios, melhores exercícios, através de bibliografia que ia ficando disponível um pouco por todo o Mundo. E aqui começaram a entrar as tais áreas que, em conjunto, constituem o “know how” do treinador moderno: a psicologia, a fisiologia, a medicina, etc. E sobretudo, como já referido, a liderança – o entendimento do que é um líder e de como se constrói. Isto acabou por entregar-nos áreas de ação que extravasam claramente a área do simples treino.
Hoje, o conhecimento está à distância de uns cliques. É clicar e procurar, entre uma bibliografia imensa que também nos obriga, dada essa proliferação, a um cuidado muito maior na escolha dos conteúdos.
Há muitos anos não havia cliques, era preciso procurar de outra forma. Mas os princípios eram já os mesmos. A formação, no fundo, permite a criação de um conjunto de conhecimentos que vamos consolidando ao longo do tempo e são fundamentais para a nossa carreira e para poder liderar uma equipa, transmitindo aos jogadores aquilo que é mais importante e fazendo do treinador o primeiro gestor da grande mais-valia de clubes que têm como atividade principal o futebol.
O FUTURO
A complexidade do negócio do futebol ultrapassou há muito, como vimos, a gestão do jogo e surge, hoje, com contornos que obrigam o treinador a ser muito mais que o homem que treina durante a semana e orienta a equipa ao domingo. Já não é só pensar nas coisas sobre as quais, no fundo, quase toda a gente sabe. As pessoas, de um modo geral, sabem pelo menos um pouco de futebol e falam disso. O treinador tem de ir muito mais além. O que dá força e corpo ao treinador tem de ser procurado noutras áreas do conhecimento. Este desenvolvimento na busca do conhecimento – conjugando a formação institucional com a pessoal – foi o que enriqueceu os treinadores. Os melhores de entre eles são, hoje, os que melhor dominam esta multidisciplinaridade – além, obviamente, de serem muito bons nos produtos primários que são o treino e o jogo.
No cenário atual, simultaneamente especializado e multidisciplinar, surgem novas ameças, quase todas elas relacionadas com a componente industrial e comercial, se quisermos, do futebol atual.
A formação dos treinadores e, fundamentalmente, o próprio papel dos treinadores será determinado, no futuro, pelo caminho que o próprio futebol trilhará. Ele está muito diferente do que era quando comecei. Está, até, muito diferente do que era quando há três/quatro anos deixei de treinar na Europa.
Há uns anos, num evento que decorreu no Algarve, tive oportunidade de dizer uma coisa que foi bastante contestada. Perante uma questão sobre o posicionamento dos treinadores nos clubes – se mandam realmente, se ditam leis, se têm poder, se no fundo são como foi José Maria Pedroto, por exemplo – respondi que no futuro isso não será, de todo, assim.
O futebol tem, hoje, protagonistas que não existiam há uns largos anos e foram aparecendo nas últimas décadas, ganhando força e peso específico a cada ano que passa: agentes de jogadores com enorme poder e influência junto de clubes e futebolistas; instituições organizadas exclusivamente em torno do negócio, na busca do lucro e do dinheiro; uma imprensa que vive da novidade e de alguma especulação e tem ela própria, nos últimos anos, sofrido alterações profundíssimas de paradigma – entre o jornal desportivo trissemanário e as redes sociais parece que passaram séculos, mas foram apenas duas décadas.
Entre estas três forças está uma equipa de futebol, inserida num clube cujos dirigentes vivem na dependência direta dessas forças e que é liderada por um treinador, colocado no olho do furacão de toda esta dinâmica. Nessa conversa mantida no Algarve eu dizia que não gostaria de viver para ver, ainda no meu tempo, o treinador passar a ser um mero adestrador de jogadores, vendo as grandes decisões tomadas por outras forças.
Infelizmente já se vai vendo isso, e cada vez mais. É cada vez mais difícil ser treinador. As exigências, a pressão exterior e os interesses em torno do fenómeno futebol são cada vez maiores, quando na verdade tudo é simples para um treinador e se resume à vontade de ganhar. Um treinador, no fundo, quer ganhar. Para ganhar precisa dos jogadores e eles, muitas vezes, estão rodeados por estruturas com interesses que não são necessariamente coincidentes com os do treinador. Há decisões que o treinador já não toma. Outras passam-lhe ao lado. Tem de lutar muito por determinadas opções, outras ficam a meio caminho. E são cada vez mais escolhidas por pessoas que não entendem de facto de futebol e não sabem quais os melhores caminhos para as vitórias. Gerir finanças é para os gestores, naturalmente que gerir um clube será para o presidente e as direções, mas não se pode esvaziar o papel do treinador.
Não é por acaso que as maiores vitórias continuam a sorrir muito mais vezes a equipas com treinadores fortes e interventivos, que podem levar avante boa parte das suas ideias. O treinador tem de ter condições de continuar a ser mais do que um mero influenciador com menos peso que as correntes exteriores. Caso contrário a profissão poderá, a prazo, ficar seriamente ameaçada tal qual a conhecemos, deitando por terra o trabalho de décadas de que falámos ao longo deste artigo.
JESUALDO FERREIRA, treinador
Nasceu em Mirandela a 24 de maio de 1946. É licenciado em Educação Física pelo ISEF, com especialidade em Futebol, e foi durante sete anos professor assistente convidado da Universidade Técnica de Lisboa, precisamente na cadeira de Futebol do ISEF. Começou a carreira de treinador na FPF, em 1974, comandando seleções jovens durante cinco anos. Voltou à Federação entre 1990 e 1992, como adjunto de Artur Jorge na Seleção A, e entre 1996 e 2000 para orientar os sub-21. Após passagem pelos juniores do Benfica, entre 1979 e 1981, entrou no futebol sénior ao serviço do Rio Maior. Foi durante quatro anos adjunto de Toni no Benfica, tendo conquistado dois campeonatos e duas Taças, além da presença numa final da Taça dos Campeões. Trabalha atualmente no Al Sadd, do Qatar. É o único português com três campeonatos consecutivos, ao serviço do FC Porto, e um dos dois (o outro é Fernando Santos) que treinaram os “três grandes”. Orientou ainda Torreense, Académica, Atlético, E. Amadora, FAR Rabat, Alverca, SC Braga, Boavista, Málaga, Panathinaikos e Zamalek. Aos títulos já referidos junta duas Taças de Portugal, uma Supertaça, um campeonato e uma taça do Egipto e, já este ano, três troféus no Qatar.