Num país em que apenas 0,5% da população com deficiência pratica desporto, é necessário evitar estratégias isoladas e haver constante monitorização para resolver problemas que são de toda a sociedade.
“A igualdade de género e a inclusão de pessoas com deficiência é uma vontade que tem de ser de todos”, defendeu Leila Marques Mota, vice-presidente do Comité Paralímpico Portugal, no painel “Futebol, Integridade e Inclusão” do Football Talks, esta terça-feira, na Cidade do Futebol.
A antiga atleta paralímpica considera importante “não haver estratégias isoladas nem falta de monitorização” neste combate a problemas que são da sociedade no seu conjunto e admitiu que “não estamos a dar tudo à velocidade que devíamos” para os resolver.
Em Portugal, apenas 0,5 por cento da população com deficiência pratica desporto - um dado fornecido por Leila Marques e divulgado pela moderadora, Rita Ferro Rodrigues.
No mesmo painel, o futsalista internacional Pany Varela afirmou que “Portugal continua a ser racista e eu incluo-me nisso. Temos de dar o exemplo e educar as crianças. Pelo estatuto que atingi, sinto cada vez menos os efeitos do racismo e isso não é um privilégio.”
A solução para este e outros problemas de discriminação está, segundo o jogador do Sporting, na formação. “Não podemos só ser bons no desporto que fazemos. Temos de procurar formação porque a vida é muito mais. Temos de ter conteúdo e ser mais do que uma coisa bonita para ver na televisão.”
Referindo-se às redes sociais, Pany Varela pediu racionalidade às pessoas, pensando no outro, pois, sobretudo no futebol, em que a dimensão e os efeitos são enormes, “a pessoa pode apagar a conta, mas não paga aquilo que leu”. “Usem as redes sociais para coisas boas”, pediu aquele que é considerado um dos melhores jogadores de futsal do mundo.
Joana Teixeira, diretora da Secção de Desporto Adaptado do FC Porto, que existe há mais de 30 anos e tem o lema “A mesma ambição”, pediu aos dirigentes de todos os clubes para olharem para esta questão e reservarem “45 minutos por semana para disponibilizarem o campo para atletas com deficiência”. Joana Teixeira acredita que isso pode fazer a diferença na vida destas pessoas. “Aparecer na escola ou numa notícia com a camisola do FC Porto muda a vida de uma criança com deficiência”, exemplifica.
Rute Soares, coordenadora da Unidade de Integridade e Compliance da FPF, orientou a sua intervenção para o trabalho que desenvolve na organização, admitindo que “pensar em integridade no futebol é um desafio”, pois “o que acontece em campo reflete-se na instituição que o promove”.
Referindo-se concretamente às apostas desportivas, Rute Soares revelou estimar-se que, só na época passada, foram apostados 15 mil milhões de euros nas competições portuguesas, 80 por cento desta verba oriunda do mercado asiático, ou seja, 45 milhões por jornada. Este é um fenómeno que tem de ser levado a sério, pois “a nossa atividade pode ser afetada por outro jogo que não é desporto”.
Por isso, a coordenadora da Unidade de Integridade e Compliance da FPF divulgou outros números muito relevantes: a FPF, em conjunto com os seus 29 sócios ordinários, já fez 45 mil ações de formação nesta matéria e, com elas, chegou a 1,8 milhões de agentes desportivos.
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