FPF Football Talks+Extra Time: Desporto para Todos

Football Talks

Sessão de encerramento contou com intervenção de João Marcelino

No âmbito do programa de comemorações dos seus 110 Anos, que se celebraram a 31 de março de 2024, a Federação Portuguesa de Futebol organizou, esta quinta-feira, na Cidade do Futebol, o Football Talks + Extra Time “Desporto para Todos”.

Juntando personalidades da Sociedade Civil, responsáveis das principais Federações Desportivas do País e atletas de elite, o Football Talks constitui um convite à reflexão de forma diferenciada sobre o papel do Desporto na Sociedade e sobre alguns dos desafios e oportunidades que se lhe apresentam atualmente.

João Marcelino, diretor de conteúdos da Federação Portuguesa de Futebol, falou aos presentes, encerrando o Football Talks + Extra Time “Desporto para Todos”:

"A pegada social do desporto

Como vimos ao longo desta tarde, o desporto é uma atividade humana que transcende fronteiras culturais, sociais e económicas, exercendo uma influência significativa em diversos aspectos da vida em sociedade.

A sua pegada social, como nos disse a professora Raquel Vaz Pinto na sua intervenção inicial, abrange uma ampla gama de áreas, desde a saúde e o bem-estar até à inclusão social e ao desenvolvimento comunitário.

A partir de declarações de dois treinadores, Sven-Goran Eriksson e Luís Enrique, a professora falou-nos no papel particular do futebol, da sua importância e dos perigos que o rondam e que são inerentes a qualquer actividade lucrativa.

Raquel Vaz Pinto, na sua intervenção balizada por quatro pontos, falou-nos ainda no papel particular da mulher dentro deste futebol que combate o racismo, a violência, a intolerância religiosa.

A prática regular de atividades desportivas está intrinsecamente ligada à promoção da saúde física e mental ao ganho daquilo que chamou “tempo de qualidade”.

O desporto ajuda a combater doenças crónicas, ao mesmo tempo que melhora a saúde mental, em todas as faixas etárias, reduzindo o ‘stress’ e a ansiedade.

A participação em atividades desportivas promove hábitos de vida saudáveis, como uma alimentação equilibrada.

Além dos benefícios individuais, o desporto, nomeadamente o futebol, também desempenha um papel fundamental na coesão social e na inclusão, na ligação das pessoas à vida até em momentos difíceis.

O professor José Manuel Constantino falou de como isso é possível e acontece nos campos de refugiados, que infelizmente não deixam de crescer em todo o mundo.

Com o conhecimento e a clareza que eu sigo há dezenas de anos, o professor Constantino fez-nos perceber melhor como o futebol, ao proporcionar um espaço de convívio e interação, promove, ou deveria promover sempre, a união entre pessoas de diferentes origens étnicas, sociais, culturais e religiosas.

Ele, o futebol, ele, o desporto, serve como uma plataforma para promover a igualdade de género, o respeito pela diversidade e a inclusão de pessoas com deficiência, promovendo assim uma sociedade mais justa e solidária. Nos domínios educativo e formativo, o desporto desempenha um papel crucial no desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais.

Através da prática desportiva, os indivíduos aprendem valores como trabalho em equipa, liderança, respeito das regras e do ‘Fair-Play’, que são essenciais para o sucesso, não apenas no campo desportivo mas, também, na vida profissional e pessoal.

O professor Olímpio Bento, outra grande figura do pensamento nacional nesta área, utilizou uma excelente imagem dos homens ‘versus’ os deuses para nos dizer algo que todos devíamos praticar com mais regularidade nas nossas vidas: aprender a perder, valorizar as vitórias dos outros.

Da minha parte, gostaria de acrescentar um outro ponto.

O desporto tem um impacto significativo no desenvolvimento económico das comunidades locais.

Eventos desportivos de grande porte, como Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo, ou apenas Continentais, geram receitas substanciais para as economias que os recebem, impulsionando o turismo, o comércio e o desenvolvimento das infra-estruturas - que depois ficam para todos e para toda a sociedade.

O desporto cria oportunidades de emprego em variados setores, desde o treino e a gestão desportiva até à indústria do entretenimento e do marketing.

No entanto, é importante reconhecer que o desporto também enfrenta desafios e questões sociais complexas.

A comercialização excessiva do desporto, por exemplo, pode distorcer os seus valores fundamentais.

O doping, a corrupção e a violência no desporto representam ameaças à integridade e à credibilidade das competições desportivas.

Para mitigar esses desafios e maximizar o impacto positivo do desporto na sociedade, são essenciais políticas e práticas que promovam a integridade, a inclusão e o desenvolvimento sustentável.

Isso inclui investimentos em infra-estruturas desportivas, programas de educação e sensibilização, e a promoção de uma cultura desportiva baseada em valores éticos e respeito mútuo.

Em resumo, a pegada social do desporto abrange uma ampla gama de áreas, desde a saúde e o bem-estar até a coesão social, o desenvolvimento económico e a promoção de valores fundamentais.

Ao reconhecer e aproveitar o potencial transformador do desporto, usando múltiplas alavancas, como a memória - outro contributo que aqui tivemos hoje - podemos ajudar construir comunidades mais saudáveis, inclusivas e resilientes em todo o mundo.

Economia de longevidade, uma oportunidade para o desporto

Ana João Sepulveda veio dar-nos o mote para o debate sobre a economia da longevidade, uma matéria em que é especialista.

Creio que posso avançar o conceito que resumo da seguinte forma: estamos a falar do impacto económico das mudanças demográficas relacionadas com o envelhecimento da população.

Vimos aqui, em vídeo, belos exemplos de com os as pessoas podem utilizar o desporto para se manterem bem vivas. Percebemos a dimensão económica do sector em Portugal e no mundo, com números concretos. Como vimos depois, através do painel que se seguiu, o aumento da expectativa de vida e a diminuição da taxa de natalidade tem impacto nas sociedades de todo o mundo, embora numas mais do que noutras.

Ficou claro que as sociedades estão a enfrentar desafios e oportunidades únicas em termos económicos.

De uma forma simples, a economia da longevidade aborda como as economias se podem adaptar e prosperar em face do envelhecimento da população.

Isso inclui, e já sou eu a dizer, uma variedade de aspectos económicos, sociais e políticos, desde a sustentabilidade dos sistemas de previdência social até ao impacto nas indústrias de saúde e cuidados de longo prazo, passando pelo mercado de trabalho e o consumo.

Algumas características-chave da economia da longevidade incluem, como foi dito por Ana João Sepulveda, “oportunidades de negócio”.

Elenco algumas áreas aproveitando o que aqui foi dito por todos e talvez acrescentado algumas noções mais pessoais.

Mudanças demográficas: A população está a envelhecer em muitas partes do mundo, com uma proporção maior de idosos em comparação com os jovens. Isso tem implicações significativas para políticas públicas, como a previdência social e os cuidados de saúde.

Pensões e previdência social: Com uma população mais idosa, os sistemas de previdência social enfrentam pressões crescentes. Os governos e as empresas precisam repensar e ajustar os seus sistemas de reformas para garantir a sua sustentabilidade a longo prazo. Tem sido tema na sociedade portuguesa e vai continuar a sê-lo.

Cuidados de saúde e inovação: O aumento da procura por serviços de saúde relacionados com o envelhecimento, como cuidados de longo prazo e tratamentos para doenças crónicas, cria oportunidades para inovação e investimento em tecnologias e serviços voltados para idosos. Falou-se aqui da medicina da longevidade.

Mercado de trabalho: Com uma força de trabalho mais envelhecida, surgem questões relacionadas com a capacitação, requalificação e adaptação das políticas de emprego para atender às necessidades dos trabalhadores mais velhos.

Consumo e mercado: Os padrões de consumo também mudam à medida que a população envelhece. Setores como viagens, lazer, cuidados pessoais e produtos de saúde podem ver um aumento da procura, enquanto outros, como bens de consumo duráveis voltados para os jovens, podem enfrentar desafios.

Inclusão e participação: Garantir que os idosos tenham acesso igualitário a oportunidades económicas e sociais é crucial para o bem-estar geral da sociedade. Isso inclui questões como acesso a cuidados de saúde de qualidade, oportunidades de emprego e participação na vida comunitária. Em resumo, a economia da longevidade concentra-se em compreender e abordar os desafios e oportunidades decorrentes do envelhecimento da população, buscando garantir uma sociedade economicamente sustentável e inclusiva para todas as idades.

Tivemos aqui bons exemplos de como isso pode ser feito.

A indústria da longevidade, como nos disse Ana João Sepulveda, é realmente “uma oportunidade”.

O painel que se seguiu trouxe-nos exemplos concretos. Do que acontece no envelhecimento da sociedade da região de Guimarães até aos problemas que traz ao nosso sempre presente SNS.

Tivemos aqui noticias de uma parte do desporto amador, reunido em volta do Inatel, e de clubes de andebol e basquetebol, porque hoje falou-se de desporto e não apenas na perspectiva do futebol, a grande razão de ser da casa que hoje acolheu esta iniciativa.

Vamos todos, e volto à apresentação de Ana João Sepulveda, tornar-nos profissionais da longevidade.

Atletas de elite como inspiração

Dito isto, obviamente percebemos o que podem fazer os grandes desportistas, nacionais e mundiais, pela promoção dos valores de que falámos, aqui, esta tarde.

Num painel muito interessante pelas experiências pessoais que nos trouxe, ouvimos a

Andreia Santos, atleta do atletismo, que nos trouxe uma experiência de vida; a

Janice Silva, jogadora de futsal, que nos falou da experiência num meio social difícil, na Amadora, e de como isso a fez duvidar daquilo que a vida tinha para lhe dar antes de encontrar apoio no SL Benfica, que lhe restituiu o equilíbrio numa região privilegiada do mundo quando comparada com outras realidades;

O Miguel Monteiro, atleta paraolimpico, enorme exemplo de superação, claro e inspirador, que nos falou de como as limitações físicas não são um peso definitivo para quem quer viver em pleno;

O Tomás Apleton, jogador de râguebi, que explicou como se pode compatibilizar o desporto com a progressão académica. Ouvimos experiências pessoais marcantes.

Para terminar, permitam-me duas notas pessoais.

O presidente do COP falou no desporto como elevador social e eu lembrei- me de que numa outra vida, que não esta que agora tenho, costumava apresentar o futebolista Cristiano Ronaldo, capitão da nossa seleção, como um exemplo a seguir pelos jovens em tudo aquilo que diz respeito à força que devemos colocar no atingir dos objectivos de vida.

Fazia-o regularmente em meios que nada tinham a ver com futebol.

E fazia-o porque, através do desporto, neste caso o futebol, esse homem, Cristiano Ronaldo, conseguiu realizar-se, instruir-se (porque a escola, sendo essencial, não é o único veículo para a obtenção de conhecimento), fugir à pobreza, gerar bem estar para toda a família, explicar a importância de uma vida saudável e do sacrifício pessoal e físico, promover a sua terra, promover a importância da família, e ainda enquanto desportista transitar para a esfera empresarial, ou seja, de produtor de emprego, de riqueza.

Um enorme exemplo.

Os desportistas de alta competição - e referiram-se aqui outros nomes, como Pepe, Bernardo Silva, Kika Nazareth - podem ser figuras essenciais para a percepção de tudo aquilo que aqui ouvimos, assim como todos os restantes agentes desportivos,treinadores, árbitros, dirigentes."


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4 de Abril 2024
Foto

FPF / André Sanano

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