Cada plantel masculino inclui pelo menos um jogador daltónico

Responsabilidade Social

Projeto TACBIS apresenta estudo sobre a prevalência de daltonismo em jogadores de elite, com base em dados recolhidos em seleções nacionais e clubes.

Cerca de seis por cento dos jogadores de futebol de elite apresentam uma forma de daltonismo ou uma anomalia na perceção das cores, segundo os resultados de um estudo do projeto TACBIS, que conta com a participação da Federação Portuguesa de Futebol e de várias entidades do futebol europeu.

As conclusões deste estudo, que será apresentado publicamente esta segunda-feira, 14 de novembro, em Budapeste, revelam também que, na maioria dos casos, tanto os jogadores como o clube ou a seleção nacional que estes representam desconheciam a deficiência visual detetada.

O projeto TACBIS foi criado com o objetivo de fornecer evidências da existência do daltonismo no futebol europeu, e também criar e distribuir recursos para apoio a jogadores daltónicos, bem como a outros grupos na família do futebol que vivam com essa condição, tais como adeptos.

Nos últimos três anos, jogadores de elite do escalão de sub-18 e acima, tanto de seleções nacionais como de clubes (de Portugal, Dinamarca e Reino Unido) realizaram testes para deteção de daltonismo, com os resultados a provarem que, pelo menos um em que cada equipa apresenta uma incapacidade parcial ou total de identificar as cores. 

O estudo permitiu igualmente verificar que treinadores e dirigentes das equipas testadas demonstram pouco conhecimento da condição e que o daltonismo pode ter impacto negativo na performance individual e coletiva dos atletas. 

Com base na evidência estatística, o estudo aponta soluções para a eliminação de barreiras aos daltónicos no futebol e sugere, entre outras medidas, a implementação de um regulamento para garantir as melhores práticas por parte de clubes, ligas e competições, no que respeita, por exemplo, à combinação de cores dos equipamentos ou à sinalética.

A publicação desta informação acontece na antecâmara do Campeonato do Mundo de 2022, com o estudo a estimar que estarão presentes no Catar, pelo menos, 50 jogadores daltónicos, em representação das 32 seleções participantes, que trazem, cada uma, 26 atletas. Um desses jogadores é o internacional dinamarquês Thomas Delaney.

O que dizem os responsáveis do projeto
Francisca Araújo, do Departamento de Intervenção Social da FPF, refere que “o legado mais importante deste estudo é a identificação de jogadores com daltonismo”. “Esse conhecimento permite-nos dar aos jogadores e às equipas a orientação de que necessitam para lidar com o problema e o devido apoio”, explica.

Kathryn Albany-Ward, fundadora da ONG Colour Blind Awareness, parceira do projeto TACBIS, diz que a indústria do futebol só tem a ganhar com a inclusão de pessoas com daltonismo. “Há muito tempo desejamos demonstrar a prevalência do daltonismo em jogadores de elite para garantir que a indústria do futebol leva a sério as necessidades dos daltónicos. A inclusão de pessoas com daltonismo beneficiará milhões de adeptos com essa condição e poderá resultar não apenas num melhor retorno dos investimentos financeiros (de jogadores individuais), mas também num aumento das receitas pois, com menos ‘conflitos de equipamentos’, mais adeptos quererão assistir aos jogos”.

Adam Bibbey, professor da Universidade Oxford Brookes, que coordena o estudo a lançar esta segunda-feira, assegura que “25 por cento dos jogadores daltónicos não estão a chegar ao patamar de elite, o que é um problema para o futebol, pois significa perda de tempo e um investimento financeiro desperdiçado, por parte dos clubes formadores, e com implicações negativas na carreira e na saúde mental dos jogadores”.

“Alguns jogadores daltónicos indicaram que não se sentem à vontade para falar sobre o problema que os afeta, por medo de constrangimento ou do impacto negativo que possa ter nas negociações de contrato”, acrescentou Adam Bibbey.

Estatísticas
. A deficiência visual cromática afeta 1 em cada 12 homens (8%) e uma em cada 200 mulheres
. Existem 300 milhões de pessoas daltónicas (34 milhões só na Europa)
. Em Portugal estima-se que 500 mil homens sofram de daltonismo, enquanto 27 mil mulheres vivem com essa condição.


Sobre o projeto TACBIS @TACBISproject 
É uma parceria entre as federações de futebol de Portugal, Islândia e Roménia, o clube da Superliga dinamarquesa Randers FC, a Rede Europeia para o Desenvolvimento do Futebol (EFDN), a Universidade de Oxford Brookes e a ONG Colour Blind Awareness, financiado por fundos europeus através do programa da UE Erasmus+ Sport Programme.

 


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